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do tempo
1912 – 1919
Em 1912, na casa do poeta Vicente de Carvalho, foi definido o conceito e o nome do Cultura Artística – um polo de fruição de arte e circulação de ideias. Os encontros tinham o formato de saraus lítero-musicais e contaram com nomes como o da pianista Antonieta Rudge (1899-1984), que tocou ao lado do violinista ucraniano Mischa Elman em 1916, e do maestro Gino Marinuzzi, que, em 1918, apresentou a Nona Sinfonia em ré menor, op. 125, de Beethoven, pela primeira vez em São Paulo..
O período foi ainda marcado por conferências: em 1915, Afonso Arinos de Melo Franco (1868-1916) coordenou cinco eventos sobre cultura brasileira – a terceira conferência do ciclo contou com Catulo da Paixão Cearense (1863-1946) na parte musical. Dois anos mais tarde, Alfredo Pujol profere sete conferências sobre Machado de Assis, republicadas atualmente pela Imprensa Oficial.
O ano de 1917 também é um marco para a dança, com um sarau exclusivo com a companhia dos Balés Russos, de Serguei Diaghilev, com a participação do maestro Ernest Ansermet.
Com o número de assinantes crescendo consideravelmente, a diretoria decide em 1919 ter um terreno para a sua sede, que acaba por ser, por sugestão do arquiteto e sócio Ricardo Severo, uma área na região da rua Florisbela.
1920 – 1929
Pouco depois da semana modernista de 1922, Villa-Lobos abre com aplausos o ano musical do Cultura Artística. O sucesso do evento faz desse concerto o início de uma longa colaboração entre Villa-Lobos e o Cultura Artística. Em 1925 o compositor chegou a dar três concertos, encerrando a temporada com sua grandiosa Missa-Oratório para vozes mistas e orquestra. Em 1929, após uma temporada de grande sucesso em Paris, participou ainda de dois saraus seguidos – um Festival Villa-Lobos.
A construção da sede própria é o maior desafio da década. Mesmo com a falta de um teatro que dê independência de ação à entidade e as dificuldades de crescimento, os saraus se mantêm com grandes nomes, dentre os quais podemos citar a estreia na cidade da ópera Os Saldunes, do compositor e maestro brasileiro Leopoldo Miguez (1850-1902), em 1924 e a conferência sobre a obra do compositor popular Ernesto Nazareth, de 1926, apresentada por Mário de Andrade e com participação do próprio Nazareth.
1930 – 1939
A programação de 1932 tinha tudo para ser maravilhosa: abertura com o Trio Brasileiro, sucedido pelo Coro Madrigal de Hamburgo, Claudio Arrau, Quarteto de Cordas de Londres e os pianistas Ignaz Friedmann e Miecyslaw Münz. No entanto, a Revolução Constitucionalista faz com que os saraus tenham que ser cancelados. No ano seguinte, falece Nestor Pestana, um dos principais motores do Cultura Artística durante 21 anos. Mais tarde, o prefeito Fábio Prado decide mudar o nome da rua Florisbela para rua Nestor Pestana, como é chamada até hoje. Esther Mesquita, filha do jornalista Júlio Mesquita, assume a primeira secretaria. Esther tem o plano de criação de uma orquestra permanente e, em 1934, faz uma experiência piloto, com dois concertos sinfônicos regidos por Ernst Mehlich.
Apesar de difícil, a década é marcada por grandes estrelas, como Alfred Cortot e Nicanor Zabaleta, além dos Meninos Cantores de Viena, que vêm pela primeira vez ao Brasil em 1936. Em 1939, temos ainda o brilhante sarau do Quarteto Léner, mesmo com o estouro da Guerra.
1940 – 1949
Logo no começo da década, em 1941, é apresentado pela primeira vez no Brasil o ciclo integral das sonatas para piano de Ludwig van Beethoven, com Fritz Jank (1910-1970). Entusiasmada com a experiência dos ciclos, Esther Mesquita organiza outros saraus temáticos como os “Recitais Bach”, com Alexander Borovsky, e as “Sonatas de Beethoven para Violino e Piano”. Dois anos mais tarde, recebemos ainda o “Festival Tchaikovsky”, com a Orquestra Sinfônica de São Paulo e a Banda da Força Pública, sob regência de Eleazar de Carvalho e a participação, mais uma vez, de Fritz Jank ao piano.
Em 1944, a Orquestra Sinfônica Brasileira vem pela primeira vez a São Paulo sob a batuta de seu primeiro regente, o húngaro Eugen Szenkar (1891-1977). Outro concerto marcante o período é a execução de A Paixão segundo São João, de Bach, em 1935, ano de celebração dos 250 anos de nascimento do compositor.
Os anos seguintes marcam a construção do teatro Cultura Artística: em 1945, a Prefeitura de São Paulo aprova a planta de autoria do arquiteto Rino Levi, e as obras se iniciam em agosto de 1947. Em 25 de dezembro de 1949, o Cultura Artística, a construtora e o projetista responsáveis pela construção do teatro publicam anúncio nos principais jornais da capital, apresentando a futura obra como um presente de Natal à cidade.
1950 – 1959
Em 1950, acontece o espetáculo inaugural do Cultura Artística, com a Orquestra Sinfônica de São Paulo apresentando obras de Camargo Guarnieri e Heitor Villa-Lobos, regidas por seus respectivos compositores. Com a construção da sede, é possível ampliar o número de sócios, que passam a 2.500 em 1951.
As Temporadas da década trazem grandes nomes como o pianista Wilhelm Kempff, ainda em 1951, os pianistas Alfred Cortot e Friedrich Gulda, em 1952, a mezzosoprano Fedora Barbieri, em 1953, e o barítono Robert Mcferrin, primeiro negro a cantar no Metropolitan Opera em Nova York, que se apresenta no Brasil em 1958.
O prédio, no entanto, apresenta avarias em parte da estrutura de madeira que sustenta o teto, em 1955, sendo necessária uma demolição forçada de parte do prédio. Rino Levi aproveita a ocasião e projeta reformas nos palcos dos dois auditórios para adequá-los às exigências das companhias de ópera e balé. A reinauguração acontece em janeiro de 1956 e logo no ano seguinte o Cultura Artística cria uma companhia estável de dança, com sete meses de programação e 12 balés montados. Sem o número suficiente de sócios para se manter e sem condições de sobrevivência, a companhia é extinta em 1958.
1960 – 1969
Com problemas financeiros, o Cultura Artística decide arrendar o prédio para a TV Excelsior por um período de três anos, a partir de 1960. Em 1961, com eleição de uma nova diretoria, são suspensas as atividades durante todo o ano. A retomada, em 1962, é marcada pelo lançamento da temporada comemorativa do 50º aniversário. A TV Excelsior cede o Cultura Artística para o concerto e, em 1963, renova o contrato de locação por mais três anos. No mês de dezembro do mesmo ano, falece Esther Mesquita, e em janeiro de 1964, Ruy Mesquita pede seu afastamento. A difícil situação financeira e o fato de estar novamente sem um teatro-sede provocam uma queda na qualidade geral da programação e a consequente evasão de sócios. A diretoria decide convidar o musicólogo Alberto Soares de Almeida para o cargo de secretário executivo com a atribuição de programar e pôr em execução as atividades artísticas. A grande novidade, ainda em 1964, é o curso sobre Shakespeare, com conferências de Décio de Almeida Prado, Barbara Heliodora, Rubem Rocha Filho, Paulo Mendonça, entre outros.
Em 1965, Alberto Soares coordena a formação da Orquestra Pró-Música de São Paulo e, com ela, espera-se conquistar novas plateias. O Cultura Artística dá entrada livre para estudantes em todos os concertos e a programação é cumprida integralmente – 12 eventos – com grande sucesso. Em 1966, seguem-se as inovações: para além da temporada de altíssimo nível, o Cultura Artística surpreendeu seus sócios com a realização de um espetáculo que apresentou 12 músicas da Jovem Guarda interpretadas por cantores eruditos, acompanhados de orquestra de câmara e cravo. A ideia de executar obras de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderléa e dos Beatles em arranjos originais para formação orquestral causa tanto espanto e curiosidade que, desde o anúncio, é enorme a procura pelos ingressos.
Em 1967, é eleita a nova diretoria para o triênio: Luiz Mesquita, na presidência; Alberto Soares de Almeida, na secretaria executiva e Juvenal Ricci Ayres na tesouraria. O número reduzido de eventos se justifica pela inadimplência do locatário do teatro, a TV Excelsior.
1970 – 1979
Em 1970, o Cultura Artística tenta na justiça a decretação do despejo da TV Excelsior. Além da inadimplência, o espaço mostra sinais de deterioração, a começar pelo painel de Di Cavalcanti. No ano seguinte, o governo federal fecha a TV Excelsior, a justiça executa o despejo e devolve as chaves ao Cultura Artística. O espaço está arruinado e com contas em atraso. Os fiadores do aluguel, Igor e Esther Pascowitch, concordam em pagar os prejuízos. Decide-se por uma reforma simples que coloque o teatro nas condições anteriores à locação, que se inicia em 1973 em ritmo lento, na medida das disponibilidades financeiras do Cultura Artística. A sede é reaberta oficialmente em 1977, com a Sinfônica Estadual executando obras dos dois compositores brasileiros que inauguraram o teatro em 1950: Villa-Lobos e Camargo Guarnieri.
Na noite de 26 de setembro de 1979, o Cultura Artística apresenta seu sarau de número 1.000, com concerto do Trio Barroco de Paris (cravo, oboé e violino).
1980 – 1989
Foto: Acervo do jornal O Estado de S. Paulo
A partir de 1980, são contratados profissionais para funções específicas, entre eles Gérald Perret, superintendente encarregado da parte executiva, da programação artística anual e da gestão de todas as atividades da instituição.
Em 1982, a comemoração dos 70 anos do Cultura Artística traz concertos da Orquestra de Câmara de Moscou, com participação de Antonio Meneses (violoncelo) e Nelson Freire (piano). O grande auditório passa a se chamar sala Esther Mesquita e, entre 1983 e 1984, fica pronto o pequeno auditório que passa, por sua vez, a se chamar Rubens Sverner. A sala é aberta em noite de gala com o violão de Turíbio Santos interpretando Villa-Lobos, Clara Sverner e Paulo Moura, executando Debussy, Ronaldo Miranda e Paul Creston. Ao final, Gilberto Tinetti, Erich Lehninger e Watson Clis executam o Trio em Si bemol, op. 99, de Schubert.
Os anos seguintes são marcados por grandes apresentações, como a do pianista Yefim Bronfman e as irmãs Katia e Marielle Labèque , em 1985, Márcia Haydée, Richard Cragun, John Neumeier e solistas do Ballet de Stuttgart, em 1986. Na comemoração dos 75 anos da Sociedade, temos três apresentações da English Chamber Orchestra e um recital de Lazar Berman, além do que é considerado maior evento musical do ano de 1985: a Sinfônica de Leningrado, regida por Alexander Dmitriev. Em 1988, se apresenta a Orquestra Gewandhaus de Leipzig, sob a regência de Kurt Masur, em um contexto de radicalização de posições no leste europeu, pouco antes da queda do Muro de Berlim.
Em 1989, a organização da temporada passa a ser feita por uma comissão de três membros e a ser discutida e aprovada em reunião da diretoria.
1990 – 1999
Os sócios do Cultura Artística assistem a concertos marcantes como os da violinista Anne-Sophie Mutter, com participação do pianista Lambert Orkis, em 1990, a Orquestra Sinfônica de Montreal, sob a regência de Charles Dutoit e Orquestra Filarmônica de Leningrado, sob a regência do maestro Mariss Jansons, ambas em 1991, e o Tokyo String Quartet , em 1992. A Orquestra Filarmônica de São Petersburgo, sob a regência do maestro Yuri Temirkanov, faz sua primeira turnê pela América Latina em 1994 e, em 1995, recebemos a violinista Midori, com participação de Robert McDonald, e os Solistes de l’Ensemble InterContemporain. O ano também traz a dupla brasileira Pena Branca e Xavantinho, apresentando “Canto do povo do lugar”.
Em 1997, falece Luiz Vieira de Carvalho Mesquita, que comandou a sociedade durante 30 anos. A temporada, certamente inspirada por esse mentor, será extraordinária, com a New York Philharmonic, sob a regência de Kurt Masur e a City of Birmingham Symphony Orchestra, sob a regência de Sir Simon Rattle. José Mindlin assume a presidência no ano seguinte, somando esta atribuição à de presidente do Conselho, que tinha desde 1980.
2000 – 2009
Entre 2000 e 2001, a entidade recebe The English Concert e Trevor Pinnock (regência) e Matthias Goerne (barítono) e Eric Schneider (piano), além de Ute Lemper. A celebração dos 90 anos, em 2002, traz uma rara oportunidade para o público de São Paulo: o teatro japonês de bonecas da Associação Bunraku de Osaka. No ano seguinte, é anunciada pela primeira vez uma temporada dedicada exclusivamente ao jazz – gênero que também marca o ano de 2005, com a apresentação da Lincoln Center Jazz Orchestra e Wynton Marsalis (regência e trompete).
Em 2006, além das atividades internacionais, o Cultura Artística decide intensificar sua vocação sociocultural e cria um projeto pioneiro de música clássica para crianças. Sucesso de público em pequenas e grandes cidades, o projeto Ouvir para Crescer nasce para sensibilizar e formar novos ouvintes por meio de apresentações didáticas e participativas sobre a música, suas características, gêneros e estilos.
Em 2008, o Cultura Artística sofre um baque no meio de uma belíssima temporada: seu teatro é consumido por um incêndio. Além da sala principal, toda a aparelhagem técnica, de iluminação, palcos, plateia, os figurinos e cenários das duas peças em cartaz são completamente destruídos, além de dois pianos Steinway & Sons.
A parte artística, porém, não se intimida com o acidente: a temporada de 2009 é das mais estelares, com nomes como a Orchestre des Champs-Élysées e Phillippe Herreweghe (regência) e o Ballet Biarritz. Além disso, o Cultura Artística assume a gestão do Teatro Promon, antiga Sala São Luiz, que passa a se chamar Cultura Artística Itaim, e propõe ali uma série de música de câmara.
2010 – 2019
Foto 2: Izilda França
Com o falecimento do presidente do Cultura Artística, José Mindlin, em 2010, Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, assume a presidência. Em sua agenda, os desafios da reconstrução e a comemoração dos cem anos da instituição.
Em 2011, é concluído o restauro do painel Alegoria das Artes, de Di Cavalcanti, marco da fachada do Teatro. A iniciativa recebe o prêmio de melhor projeto de preservação de bens imóveis pelo IPHAN no ano seguinte. A temporada traz a Orquestra do Festival de Budapeste com participação do violinista József Lendvay e do pianista Dejan Lazić, além da Filarmônica de Rotterdam e da Sinfônica do Porto.
Os 100 anos de existência do Cultura Artística reafirmam a sua vocação histórica em contribuir com a música e os grandes artistas de sua época. De abril a novembro, a Temporada de 2012 traz ao palco da Sala São Paulo uma programação cheia de estrelas, como a Orchestra del Maggio Musicale Fiorentino, sob regência de Zubin Mehta, e a Orchestre National du Capitole de Toulouse, dirigida por Tugan Sokhiev, Lang Lang, Nelson Freire, Sol Gabetta, Joyce DiDonato e Renée Fleming, além do Balé Béjart, que se apresenta em evento comemorativo do centenário.
Os anos seguintes não deixam a desejar em relação à notoriedade das atrações recebidas: após mais de 20 anos de ausência nos palcos da América Latina, a Orquestra Real do Concertgebouw de Amsterdã faz dois concertos sob a regência de seu maestro titular, Mariss Jansons, além de um concerto gratuito ao ar livre na plateia externa do Auditório Ibirapuera em 2013, mesmo ano em que a Orquestra Simón Bolívar, sob a regência de Gustavo Dudamel, faz dois concertos extras na Sala São Paulo e mais um ensaio aberto a estudantes. Entre 2014 e 2019, passam pela nossa programação nomes como Nelson Freire, Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera, Joyce DiDonato, Philippe Jaroussky, Hespérion XXI e Jordi Savall, Evgeny Kissin, Orquestra Filarmônica de Viena, Orquestra Nacional de Santa Cecília, Quarteto Ebéne, Trio Wanderer, András Schiff, Duo Assad, Antonio Meneses e muitos outros destaques que podem ser vistos na página de eventos anteriores.
O Cultura Artística Educativo também se consolida e em média 6 mil pessoas são beneficiadas anualmente por masterclasses, ensaios abertos ou pela distribuição de ingressos socioeducativos. Em parceria com a Fundação Magda Tagliaferro, o Cultura Artística assume o tradicional programa de bolsas de estudos da instituição, apoiando a carreira de 14 jovens músicos por ano.